terça-feira, maio 22

Visita à World Press Photo

Há dois anos fui ver a exposição World Press Photo e este ano decidi repetir a experiência que, obviamente, é sempre única. A cada ano surgem novas e arrebatadoras fotografias. Quem procura um tipo de fotografia mais artístico, encontra. Quem prefere um género mais jornalístico, também não sai desiludido. 

Esta exposição tem sido criticada ao longo dos anos, devido à escolha das fotografias vencedoras. Consigo compreender porquê. Há imagens capazes de escandalizar até o mais frio visitante. Existe uma busca óbvia pelo sensacionalismo e pelo choque. Há dois anos vi fotografias que me deixaram perturbada durante dias e ainda hoje não gosto de as relembrar. Muitas das obras contêm pouco ou nenhum conteúdo jornalístico e talvez seja esse o combustível que mantém a World Press Photo viva e com tantos visitantes todos os anos.

Independentemente disso, vale a pena visitar esta exposição. Dividida em várias categorias, contém fotografias que valem realmente a pena. Se nos abstrairmos das cabeças cortadas, animais mutilados, pessoas moribundas e afins - acabam por ser uma minoria -, é possível perdermo-nos em paisagens quase fantásticas, culturas espantosamente representadas numa imagem, histórias contadas num "clic".
Outra das grandes mais-valias desta exposição, é abrir-nos os olhos para o que se encontra no exterior do nosso pequeno mundo. Vivemos fechados no nosso próprio umbigo e acabamos por perder a noção da realidade mundial. É claro que uma hora ou duas a olhar para fotografias não traz uma verdadeira noção do que é esta realidade, mas durante essas duas horas...acontecem coisas - passado 10 minutos à procura de uma palavra...tive que desistir.
Para quem não foi este ano, é esperar pelo próximo, porque a exposição já fechou.

As fotografias podem ser vistas em  http://www.worldpressphoto.org/

sexta-feira, abril 27

"We can do it"

Sempre me fez muita confusão aquela ideia de que temos que ser capazes de fazer tudo. O ser humano tem que arranjar maneira de trabalhar, fazer desporto, estudar e ainda dar atenção à família, aos amigos e a si próprio.


Agora sinto que aderi à "moda". Estou a estagiar há cerca de 10 meses e a trabalhar há cerca de duas semanas. Hoje em dia já se sabe que estagiário é equivalente a "mão-de-obra gratuita". Ora, isso significa carteira vazia e muitas dores de cabeça. Portanto, peguei em mim e, depois de entrevista, prova e formação, consegui trabalho. Fui às finanças e agora sou oficialmente uma cidadã remunerada.

Claro que estou em regime de part-time para conseguir conciliar tudo, mas os tempos livres que tinha, foram-se. Quando não estou a trabalhar, estou no estágio e vice-versa.

Terça-feira é feriado e, contra tudo aquilo que esperava, vou realmente ficar em casa (!). Amanhã? É sábado e vou para o estágio. Com muito gosto!

Agora só falta encontrar a coragem para praticar o tal desporto...

domingo, abril 22

O Senhor dos Anéis - "never ending story"

Recentemente passei por uma fase em que lia um livro por semana - mais coisa, menos coisa. Espantavam-se quando, poucos dias depois de começar a ler um livro, já tinha outro na mala. Não é algo que eu tente fazer, nem tampouco de que me orgulhe de fazer...é simplesmente um facto: eu devoro os livros. E teria continuado a devorá-los, não tivesse ocorrido algo que veio mudar toda a minha realidade. Ele chama-se "O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel" e eu estou a demorar séculos a acabá-lo!

Será por não gostar do livro? 
Não. Acho a história bastante interessante. 
Será complicado? Não, acompanha-se bem. 
Ando a dormir pouco? Também não...durmo as horas suficientes.

Não sei. Nos últimos dias consegui retomar o meu ritmo "normal" (mais ou menos) e já vou a mais de meio do livro...mas agora dou por mim a pensar: será que devo ler a trilogia?

Talvez devesse ler a versão em inglês - as traduções são bastante cruéis com a verdadeira essência e talento dos autores.
Ou então não ando nos meus melhores dias - e quanto a isso, não tenho a menor dúvida. 
Outro factor: o sono. Não podemos sequer colocar a hipótese de ler "O Senhor dos Anéis", quando estamos a morrer de sono...é preciso estarmos ali, presentes na história.

De qualquer forma, recomendo vivamente este livro. É mágico. Não dêem importância aos meus devaneios. Desvantagem? Faz-nos querer sair deste mundo para aquele criado por Tolkien. 

(E isso, por si só, constitui uma grande vantagem. Não é esse o destino que procuramos quando nos perdemos na leitura? Entrar noutra realidade?)

domingo, abril 15

Sem solução


E se eu quiser desistir? Sim. E se, num segundo de loucura ou pura clareza, eu decidisse desistir. Não de mim. Mas dos outros. Da segurança. Deixar de ser razoável. De pensar no futuro.

Seria assim tão mau? Tão grave? Parar de pensar e de desesperar de dia para dia...e simplesmente, desistir. Viver a minha vida. Não a dos outros. Sofrer as consequências dos meus actos. Não dos outros. Depender apenas de mim.
Esta surge como sendo a única saída possível de um ciclo vicioso de anos e anos...que promete caminhar por um caminho cada vez mais obscuro. Estou presa a decisões alheias, a egoísmos extremos. Obrigada a viver uma vida que não escolhi...apenas à espera que tudo mude.

Mas e se eu desistisse? Ignoraria todos os planos, todas as precauções. Partiria à procura de mim mesma. Da minha vida e da minha felicidade. Talvez da minha tristeza e das minhas frustrações. Mas seriam minhas.

E se...e se...e se...

Não passa disso. 

Porque não consigo. Porque não quero. Porque desistir agora deixar-me-ia numa posição irremediável.

O único problema?

Ao não fazer nada, desisto todos os dias. Desisto de mim. Do que acredito. Do que penso. Ao viver num sufoco constante, numa concha, num mundo onde não pertenço...anulo-me.

Solução?

Continuo à procura. Todos os dias. E não a encontro.

sábado, abril 7

Livro de infância


Quando era pequena li este livro. Marcou-me bastante e há pouco tempo descobri que foi adaptado para o cinema. Ainda não vi o filme mas está na minha lista de "coisas a fazer".

domingo, março 11

A tristeza de escrever


Falava no outro dia sobre artistas. Músicos, poetas, escritores e pintores...pessoas para quem a angústia, a tristeza e o desespero são combustível de grandes obras. A ausência de dor traz uma apatia, um silêncio artístico. Consequentemente essa aparente felicidade chega com uma dose de frustração...suficiente apenas para alimentar o desespero, mas incapaz de produzir qualquer tipo de conteúdo. 
Não me considerando uma artista, vejo-me reflectida neste fenómeno. Há anos que deixei de escrever. Porque há anos que as noites se passam tranquilas e há noites que as insónias não me atormentam. O desespero de dias passados desapareceu e com ele foi-se a ânsia de escrever, as palavras que saíam naturalmente e sem controlo. É verdade que a felicidade trouxe muitos momentos de inspiração em termos criativos, mas é sabido que as emoções mais negativas, são também aquelas que trazem as músicas mais belas, os poemas mais sentidos...talvez porque traz consigo a solidão, a introspecção e a reflexão que a felicidade anula. 
Porém, estar constantemente preso à infelicidade, sufocado e limitado por essa infelicidade, traz uma falsa sensação de segurança em termos criativos. Ao julgarmos que estamos a alargar os nossos horizontes, estamos apenas a fechar-nos numa pequena concha. É verdade que a felicidade abala o mundo de quem cria, mas não é diferente de qualquer outra mudança. Estamos confortáveis naquela tristeza que abominamos, usamo-la da melhor maneira que sabemos, aprendemos a viver com ela, até que deixamos de saber lidar com uma nova realidade, quando ela surge.
Deixei de escrever. Algo que sempre me preencheu, sem o qual não conseguia passar os dias. Sempre precisei de escrever e sempre tirei um grande prazer de cada linha que surgia das minhas mãos, da minha mente...das minhas angústias e do meu eu mais profundo. Não foi algo repentino, fui deixando de escrever durante dias, semanas e, eventualmente, as semanas transformaram-se em meses e os meses em anos.
O tempo passou e eu aprendi a ser feliz. Tenho um vazio deixado pela escrita, que tenciono voltar a preencher. Cresci e aprendi a conhecer-me, a interpretar-me e agora sei que não preciso de me fechar na concha para me conseguir libertar. Tenho muito que aprender, muito que crescer e muitos horizontes por explorar. A nossa existência não é tão linear como "alegria" e "tristeza", "noite" e "dia". Devemos, sim, aprender a vislumbrar cada um no seu tempo, na sua essência, na sua existência, que nunca é total nem inexistente.